09/11/2009 - 08h55
Lobo extinto achado por Darwin é primo do guará, diz pesquisa
REINALDO JOSÉ LOPES
O bicho de pelagem dourada habitava as frias ilhas Malvinas (ou Falklands, como preferem os britânicos), na costa argentina, mas seu parente mais próximo ainda vivo é o lobo-guará, morador cada vez mais raro do cerrado brasileiro. A conclusão vem de uma análise de DNA e reduz um pouco o mistério em torno do lobo-das-malvinas, animal que intrigou Charles Darwin e foi extinto pela caça indiscriminada em 1876.
A pesquisa, coordenada por Graham Slater, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, está na revista científica "Current Biology". Slater e companhia conseguiram obter DNA de cinco exemplares de museu do Dusicyon australis, como o bicho é conhecido oficialmente pelos cientistas.
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Com isso, foi possível comparar alguns genes do lobo-das-malvinas com os de canídeos modernos, em especial os nativos da América do Sul, como o lobo-guará e o cachorro-do-mato-vinagre. Ficou claro o parentesco mais próximo com o guará, mas o detalhe é que as linhagens dos dois bichos sofreram uma separação antiga, há mais de 6 milhões de anos.
De norte a sul
Isso é o mais surpreendente, porque a data indica que a evolução das duas espécies já estava ocorrendo separadamente quando canídeos como eles nem sonhavam em chegar à América do Sul. Nessa época, as terras sul-americanas eram uma ilha, separada da América do Norte. O continente atual só se formou há 3 milhões de anos.
Os ancestrais do lobo-guará e do lobo-das-malvinas acabaram sumindo totalmente da América do Norte, hoje dominada pelos coiotes e pelo lobo "verdadeiro", ambos do gênero Canis. "Não sabemos o porquê disso", disse Slater à Folha.
"Os Canis chegam [da Ásia] e os outros simplesmente desaparecem. Talvez a socialidade seja importante, porque a maioria dos canídeos sul-americanos de hoje é solitária, enquanto os lobos e coiotes vivem em grupos, e os carnívoros sociais conseguem desalojar os solitários e capturar um espectro mais amplo de presas."
Darwin foi o primeiro especialista a descrever formalmente o lobo-das-malvinas e ficou com a pulga atrás da orelha ao notar que o bicho era o único mamífero nativo das ilhas, as quais, afinal, ficam a quase 500 km do continente. Ninguém sabe como os lobos foram parar lá. Pode ser que tenham sido arrastados em cima de troncos de árvore ou pedaços de gelo mar adentro.
"Nas Malvinas eles tinham carne à vontade, comendo focas, pinguins e aves marinhas", diz Slater. É possível que outras espécies mais próximas do lobo-das-malvinas tenham sido extintas por seres humanos no continente, especula ele.
O mesmo destino aguardava a espécie insular. Pastores que colonizaram as Malvinas a consideravam uma ameaça para suas ovelhas e cobiçavam sua pele, o que acabou levando ao extermínio do animal.
A partir desta reportagem, podemos ver a importância da Sistemática Filogenética para entendermos o grau de parentesco das espécies. E vemos também como as atividades humanas vêm degradando o meio ambiente, e o cerrado é um bioma que está sucumbindo a cada dia. E as espécies do cerrado, como o Lobo guará, correm o risco de desaparecer. Com esses fatos vemos a importância da conscientização da população.